Reabilitação oral em 2026: tendências que estão mudando a prática clínica

Há alguns anos, “digital” era sinônimo de futuro. Hoje, é o idioma comum da reabilitação oral. Imagine a cena: você recebe um paciente edêntulo total que chega com pressa, expectativa e uma foto antiga do sorriso. Em vez de “começar do começo”, você parte do resultado desejado, um sorriso aprovável em mock-up — e deixa que o fluxo digital conduza o caminho. Escaneamento intraoral, planejamento CAD/CAM, guia cirúrgico, provisório: assim, cada etapa conversa com a próxima, como uma boa orquestra. A seguir, um guia narrativo das tendências que valem a sua atenção em 2026, para conhecer, filtrar e adotar no seu tempo.
1) Fluxo digital de ponta a ponta: do IOS ao CAD/CAM
Antes de mais nada, a adoção de scanners intraorais (IOS) cresceu porque encurtam etapas, melhoram a comunicação com o laboratório e se integram aos softwares CAD/CAM. Desse modo, revisões recentes apontam ganhos de acurácia e eficiência no consultório e no laboratório (GAWALI et al., 2024). Além disso, no cenário de arcadas completas, a literatura traz nuances importantes: embora as impressões digitais tenham avançado, revisões sistemáticas indicam que a fotogrametria tende a oferecer maior trueness/precision na posição dos implantes em vãos longos, quando comparada ao IOS convencional (PESCE et al., 2024; POZZI et al., 2025). Portanto, padronize o fluxo digital IOS → CAD → manufatura e, quando necessário, adote um protocolo híbrido.
2) Impressão 3D além do protótipo: modelos, guias e provisórios melhores
Nos últimos anos, 2020–2022 consolidou a impressão 3D; por sua vez, 2023–2025 refinou materiais e indicações. Como resultado, estudos mostram avanços em adaptação marginal e resistência ao desgaste de restaurações impressas — inclusive provisórios e, em linhas de pesquisa, alguns definitivos específicos (KEßLER et al., 2025; DUARTE JR. et al., 2025; LIANG et al., 2025). Na prática, a grande virada não é apenas a impressora 3D, mas também a biblioteca de resinas com validação de pós-cura e protocolos claros por finalidade (modelos, guias, provisórios). Além disso, ferramentas independentes e guias de mercado impulsionaram a adoção, com resinas novas e fluxos mais previsíveis (Institute of Digital Dentistry, 2023–2024). Em síntese, vale construir um catálogo de materiais e monitorar o tempo porta-a-porta (escaneamento → provisório).
3) Arco total com carga imediata: previsibilidade com critérios
De modo geral, o tratamento tipo All-on-4/All-on-X segue sólido desde que haja estabilidade primária, controle oclusal e seleção do paciente. Consequentemente, estudos clínicos com seguimentos de curto a médio prazo mantêm altas taxas de sucesso de implantes e próteses em carga imediata (LOPES et al., 2024; YAO et al., 2024). Além disso, em 2024–2025 observa-se uma integração mais madura entre planejamento guiado e provisórios impressos, acelerando a reabilitação sem, contudo, aumentar complicações. Inclusive, há relatos de uso de implantes 3D impressos em protocolos imediatos com 24 meses de acompanhamento (FORMIGA et al., 2024). Por fim, documente critérios de caso (torque/ISQ, parafunção, higiene, espaço protético) e padronize a prova funcional do provisório nas primeiras 24–72 h.
4) Fotogrametria em arcadas completas: quando a precisão faz diferença
Quando o caso é full-arch, a fotogrametria intraoral com scanbodies codificados tem se consolidado como estratégia de alta precisão para registrar a posição de múltiplos implantes, superando, nesse recorte, o IOS tradicional (JAIN et al., 2025; POZZI et al., 2025). Do mesmo modo, relatórios independentes destacam fluxos de intraoral photogrammetry (IPG) pensados para barra total (full-arch) (iDD Awards, 2024). Dito isso, adote um protocolo híbrido: por um lado, fotogrametria para implantes; por outro, IOS para tecidos moles/oclusão. Além do mais, valide a coerência CAD da biblioteca do fabricante para garantir passividade.
5) Materiais cerâmicos: zircônia e dissilicato sem mistério
Na hora da escolha, o pêndulo continua entre zircônia (mono/estratificada) e dissilicato de lítio. Em termos práticos, revisões recentes reforçam que zircônias bem polidas tendem a desgastar menos o esmalte antagonista e oferecem robustez mecânica para regiões posteriores; ao passo que o dissilicato brilha quando a translucidez e a mimetização são prioridade (KYAW et al., 2024; VIJAN et al., 2024; SHARMA et al., 2025). Logo, crie um algoritmo de decisão por caso (anterior/posterior, espaço oclusal, demanda estética, parafunção) e alinhe o protocolo de cimentação/adesão ao material selecionado.
6) Minimamente invasiva e adesiva: conservar é estratégia
Cada vez mais, a filosofia minimamente invasiva deixa de ser “tendência simpática” e se torna paradigma de decisão clínica. Com efeito, ela se sustenta em adesão de alta performance, diagnóstico mais preciso e materiais bioativos. Nesse sentido, revisões recentes ajudam a traduzir o conceito para a rotina (ALYAHYA et al., 2023; SINGH et al., 2025). Assim, sistematize critérios para reparar vs. substituir e padronize estratégias adesivas considerando diferentes histórias clínicas de dentina e esmalte.
7) Brasil em foco: adoção digital crescendo
No mercado, relatórios indicam que o ecossistema brasileiro de odontologia digital (IOS, CAD/CAM e impressão 3D) segue em expansão — particularmente no segmento de scanners intraorais e no avanço do parque de impressão 3D (IDATA RESEARCH, 2024; RESEARCH AND MARKETS, 2024; YAHOO FINANCE, 2024). Em outras palavras, há uma tendência clara de incorporação de tecnologias que encurtam prazos e aumentam previsibilidade.
Conclusão
Em resumo, você não precisa adotar tudo de uma vez — nem deveria. O convite, para 2026, é conhecer a paisagem tecnológica, escolher onde os seus casos clínicos mais ganham e quando cada passo faz sentido para a sua clínica. Se, por ora, o avanço for apenas melhorar a comunicação com o laboratório via scanner intraoral e um provisório impresso mais estável, ótimo. Se, mais adiante, a prioridade for vencer o desafio da passividade em full-arch com fotogrametria, melhor ainda. No fim das contas, o importante é que a tecnologia sirva ao plano protético — e não o contrário.
Referências
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11426768/
https://www.mdpi.com/2077-0383/14/1/71
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0142941825002673
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11242820/
https://www.mdpi.com/1648-9144/60/10/1614
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40311637/
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1882761624000176





































































































